![]() |
Equipe professores EMEF Plácido de Castro |
Hoje, falo de ir a exposições, assistir a uma peça, se emocionar com um filme, se deixar tocar por uma música, ir à uma feira de livros — experiências que alimentam nossa sensibilidade e nos ajudam a transformar a sala de aula em um espaço mais vibrante, criativo e humano. Nas visitas que fiz ao longo do final de semana no SESC e na Bienal, revisitei teóricos que trazem pontos de reflexão fundamentais para nossa prática docente.
![]() |
Exposição SESC Santo Amaro |
A leitura de mundo começa em nós, não é mesmo? Quem nunca se sentiu repetindo fórmulas, reciclando planos de aula e procurando, quase em desespero, por uma faísca de novidade? Muitas vezes, essa faísca não está em um novo aplicativo ou metodologia, mas fora da escola, no nosso próprio contato com o mundo.
Como nos lembra Paulo Freire, a leitura do mundo precede a leitura da palavra. E é impossível ajudar nossos alunos a ampliar o olhar se nós mesmos não estamos nos nutrindo de novas leituras, imagens, sons e experiências. Visitar uma exposição, por exemplo, é um ato de leitura. É se deixar atravessar por outras narrativas e poéticas — é educar o olhar e expandir o sentir.
Ana Mae Barbosa nos lembra disso ao propor sua Abordagem Triangular: contextualizar, fazer e apreciar. Para que a apreciação em sala seja autêntica, nós, professores, precisamos ser os primeiros apreciadores. É preciso ter o que contar, o que sentir, o que compartilhar. Afinal, a arte que vemos, ouvimos e vivemos se transforma em matéria-prima para nossas aulas — e para a vida.
Já, o filósofo John Dewey dizia que a experiência é a base da aprendizagem, e que a arte é uma forma de experiência consumada — ou seja, uma vivência que nos transforma. E de modo muito próximo, Jorge Larrosa fala da experiência como aquilo que nos acontece, o que nos atravessa, o que nos faz diferentes do que éramos antes. Ambos nos convidam a desacelerar, a estar presentes e abertos ao mundo, para que algo realmente nos toque. Quando vivemos uma experiência estética — seja numa galeria, num espetáculo ou até numa conversa inspiradora —, ampliamos nosso campo de percepção e sensibilidade. E isso reverbera em sala: uma aula inspirada em um filme, uma performance, uma canção, um poema ou uma visita cultural carrega o nosso olhar e a nossa emoção. É essa energia viva que contagia os alunos e os convida a também buscarem suas próprias experiências transformadoras.
Em tempos de aceleração e dispersão, a arte nos chama à presença. Hannah Arendt nos lembra que é no espaço público, onde nos mostramos e construímos um mundo comum, que exercemos nossa humanidade. O teatro, o cinema, as exposições e as praças culturais são, por excelência, lugares de encontro e partilha — espaços de resistência ao isolamento e à superficialidade. A arte como espaço de humanidade!
![]() |
36 Bienal: Mulher Pássaro, Menina Pássaro, Ìrókó: A árvore cósmica |
Você pode estar se perguntando: mas e em tempos de IA, como fica tudo isso? Não temos mais espaço para nos emocionar, sentir, viver, experimentar?
Curiosamente, quanto mais a tecnologia avança, mais a vivência humana e sensível se torna necessária.
A Inteligência Artificial pode ser uma aliada poderosa — ajuda a pesquisar artistas, criar imagens, montar roteiros, visitar museus virtuais pelo Google Arts & Culture ou gerar ideias criativas. Mas a IA trabalha com repertórios existentes. Ela não sente o arrepio de uma música ao vivo, não se emociona diante de um quadro, não ri nem chora com literatura ou ao lado de um grupo de alunos. Por isso, o nosso papel se renova: não é apenas transmitir conteúdos, mas proporcionar experiências. Usar a tecnologia, mas nunca deixar de viver o que só o humano pode viver.
![]() |
Cartaz 36 Bienal 2025 |
- Caderno de bordo cultural ou Caderno Criativo: registre suas vivências. Escreva, desenhe, cole ingressos, anote sensações. Crie seu diário de referências.
- Explore a cena local: veja o que há de gratuito ou acessível em centros culturais, teatros, cineclubes e feiras de arte. Convide colegas para irem juntos.
- Conecte com o currículo: relacione o que viu com temas que está ensinando. A arte é interdisciplinar por natureza.
- Experimente antes: visite o local antes de levar a turma. A experiência pessoal enriquece a mediação.
- Crie um “museu digital”: use a tecnologia para expandir seu olhar — siga artistas, explore acervos virtuais e compartilhe descobertas com os alunos.
Cultivar repertório é uma forma de alimentar a alma docente. É o que nos mantém curiosos, criativos e conectados com o mundo e com nossos alunos. Que sejamos professores-artistas, professores-curadores, capazes de transformar cada aula em um espaço de experiência e sentido.
E você? Qual foi a última experiência cultural que te atravessou e reverberou na sua prática?
2 comentários:
Que a Arte sempre nos lembre da sensibilidade que temos e as vezes esquecemos! Beijos! Dani
Uauuu q visão sensacional ……Parabéns por compartilhar dessa experiência e sabedoria .
Postar um comentário