Sobre Planejamento...
Não é de hoje que o ato de planejar está presente no nosso cotidiano. Desde que o homem se viu na condição de imaginar algo, ele começou a planejar de forma intuitiva e isso ocorreu há muito tempo atrás, ainda no tempo das cavernas. Cada vez que pensamos sobre nossos compromissos diários, imaginamos o traçado de um destino, idealizamos uma viagem ou sonhamos com o nosso futuro, estamos planejando.
Nosso cotidiano pessoal e profissional é recheado de momentos que necessitam ser planejados, mas nem sempre as nossas atividades diárias são planejadas de forma concreta, pois estão tão incorporadas à nossa rotina que fazemos isso quase que mecanicamente, como acordar determinada hora, tomar café da manhã, percorrer o caminho até o trabalho, almoçar, voltar ao trabalho entre tantos outros afazeres diários. Porém, para algumas dessas atividades que não fazem parte do nosso dia a dia, sentimos necessidade de buscar procedimentos mais sistematizados para alcançar nossos objetivos, como por exemplo, fazer uma lista para o supermercado ou escrever na agenda ou celular as prioridades de um dia de trabalho.
Nestas situações, necessitamos de algo que possa funcionar como um roteiro, um documento, um checklist onde descrevemos detalhadamente o que precisamos e como faremos para atingir nosso objetivo naquele determinado momento. Isso irá facilitar não só o nosso próprio trabalho, mas também o de outras pessoas que estejam envolvidas junto a nós naquela situação, estabelecendo uma compreensão única do que será preciso fazer.
Atualmente, a necessidade de planejamento e organização do tempo nas atividades profissionais e pessoais tem tido uma relevância tão grande em nossas vidas que fez com que o mercado lançasse várias bibliografias e cursos sobre o assunto, obtendo grande sucesso. Além disso, programas de computador e aplicativos online como bloco de anotações, agenda, lembrete de tarefas, gravador de voz e dispositivos sincronizadores de ações, passam a ser ferramentas imprescindíveis na vida de qualquer pessoa, para uso pessoal ou profissional.
É portanto, notório a importância e a necessidade de planejar nos dias atuais em qualquer área do conhecimento e atividade humana.
Mas o que é planejamento?
O ato de planejar implica em analisar uma realidade - refletindo sobre as condições existentes, e prever as ações possíveis para superar dificuldades ou alcançar objetivos esperados. É portanto, um processo mental que envolve várias habilidades como: análise, reflexão e previsão, por isso, pode-se afirmar que é uma atividade tipicamente humana, presente na vida de todos os indivíduos, nos mais variados momentos.
Então podemos dizer que planejar compreende prever e decidir sobre um conjunto de ações importantes tais como:
· O que pretendemos realizar;
· O que vamos fazer;
· Como vamos fazer;
· O que e como devemos analisar a situação, a fim de verificar se o que pretendemos foi alcançado.
Na educação não poderia ser diferente...
Educação requer planejamento. Vários são os tipos de planejamento existentes na área da educação: a) planejamento de um sistema educacional; b) planejamento geral das atividades escolares em uma instituição, c) planejamento de currículo e d) planejamento didático ou de ensino que pode ser de um curso, de uma unidade didática (ou de ensino) ou ainda de uma aula.
Sob esta perspectiva, o planejamento constitui-se uma ferramenta indispensável no trabalho do professor, já que por definição, educação é uma ação intencional e, para tanto, deve ser organizada de modo a atingir os objetivos pretendidos. Essa organização responde pelo nome de Planejamento Didático, um processo contínuo de tomada de decisões, que pode ser dividido em três fases:
fases de preparação do planejamento |
A fase de preparação corresponde à elaboração de um roteiro a ser seguido ao longo do período do curso, denominado Plano de Ensino (ou didático). Entre as várias informações necessárias à construção do plano de ensino, uma das mais importantes é a caracterização da realidade onde o curso será desenvolvido. Isso significa responder algumas questões, tais como:
· Quem são os prováveis alunos do curso?
(professores universitários? alunos de ensino superior? ensino médio? profissionalizante?)
· Como são os prováveis alunos do curso?
(níveis de conhecimento diferentes? turmas heterogêneas? homogêneas? pertencem ao mesmo estado?)
· Em que ambiente ele será realizado? (escola? universidade? Presencial? A distância? laboratórios públicos? em casa?)
· Quais recursos estão disponíveis?
(vídeo, áudio, conferência, material impresso, computadores, mobiles, ...?)
A partir dessas informações, o professor (ou a equipe) irá orientar suas decisões através dos componentes do plano de ensino, que são:
componentes do plano |
Componentes do Plano de ensino
Após caracterizar a realidade com a qual irá desenvolver seu trabalho, o professor irá escolher quais mudanças e/ou transformações pretende realizar em/com seus alunos, ao longo do curso, questionando-se: Por que ensinar?
Ao responder esta pergunta, ele mostra onde pretende chegar com seus alunos e assim, descreve seus objetivos de ensino, que podem ser classificados da seguinte forma:
objetivos |
Vale lembrar que a realidade não se apresenta em categorias estanques. No processo de ensino-aprendizagem, transformações de ordem conceitual podem provocar mudanças procedimentais ou atitudinais.
Com o perfil dos alunos em mãos e os objetivos de ensino já organizados, é hora de resolver:
O que ensinar?
Os conteúdos de ensino são unidades de conhecimento que os professores julgam necessárias a seus alunos. São extraídas do processo histórico de construção de conhecimento, empreendido pela humanidade, e selecionadas a partir das demandas da realidade.
Em função da área de atuação, os professores selecionam conteúdos de ensino necessários à formação profissional e correspondentes às demandas contemporâneas.
O conhecimento do perfil dos alunos, a clareza dos objetivos e a determinação dos conteúdos NÃO garante a efetivação do processo ensino-aprendizagem. É fundamental escolher adequadamente os procedimentos e recursos de ensino que serão utilizados no decorrer do curso, ou seja: Como ensinar?
Os procedimentos de ensino correspondem ao conjunto de ações desencadeadas no ambiente de ensino-aprendizagem, de modo a proporcionar o trabalho do professor e dos alunos, com os conteúdos, em direção à concretização dos objetivos. Procedimentos de ensino, ao longo da história da educação, têm sido conhecidos também como técnicas ou estratégias de ensino. A área do conhecimento em educação responsável por sua investigação é a Metodologia do Ensino.
Os procedimentos baseiam-se na relação professor-aluno, aluno-aluno ou, simultaneamente, em ambas.
· Aluno/professor: é importante que o professor mantenha o interesse do aluno e estimule-o no seu processo de aprendizagem.
· Aluno/aluno: ocorrem de duas maneiras - primeiro, com caráter social, e num segundo momento, através de trabalhos em grupos, lista de discussão e outros, com caráter educativo.
Os procedimentos de ensino baseados em situações da realidade, sejam simuladas ou reais, podem ser definidos como problematizadores, quando partem do pressuposto de que os alunos, de forma individual ou coletiva, são co-responsáveis pelo processo de aprendizado e que o professor atua como mediador desse processo.
De todo modo, cursos podem utilizar diferentes procedimentos de ensino, em função, por exemplo, das características da área de conhecimento do curso, do perfil dos alunos e professores, dos objetivos esperados, da modalidade de ensino, além da necessidade ou pertinência do uso de recursos tecnológicos mais sofisticados.
A utilização dos diferentes procedimentos de ensino depende da utilização de recursos de ensino, que correspondem a todo tipo de material que constitua subsídio para a elaboração do curso. Ou seja, os recursos de ensino correspondem ao material de apoio e são organizados de acordo com as necessidades dos procedimentos de ensino. Podem ser:
· Recursos visuais simples, como esquemas, desenhos, tabelas, gráficos, imagens, fotografias, diapositivos (slides), ou mais elaborados, como animações, vídeos digitalizados, CDRom.
· Recursos sonoros, como gravações de músicas, entrevistas, narrações, palestras, depoimentos, entre outros.
· Recursos bibliográficos, como textos, livros, periódicos, apostilas, páginas na web, como temos utilizado neste curso.
Para quem ensinar? Por que ensinar? O que ensinar? Como ensinar? E como ter certeza de que as decisões tomadas são as melhores?
São os procedimentos de avaliação que permitem verificar a efetividade do processo ensino- aprendizagem, identificando facilidades e eventuais dificuldades, e promover as alterações necessárias ao longo do curso. Os dados coletados a partir dos procedimentos de avaliação permitem ao professor tomar decisões sobre o andamento do programa. A avaliação pode ser diagnóstica, formativa e somativa.
avaliação |
Considerações Finais
Um bom planejamento didático tem algumas características tais como coerência e unidade, continuidade e sequência, flexibilidade, objetividade e funcionalidade, além de clareza e precisão.
Frente ao exposto, entende-se que o planejamento didático é, para o professor, uma ferramenta indispensável e eficaz na sua práxis pedagógica, permitindo orientar o aluno e propor intervenções na sua aprendizagem. Como vimos durante neste texto, é por meio desta poderosa ferramenta que se desenha e articula conteúdos, objetivos, procedimentos, recursos e formas de avaliar.
Neste sentido, se o objetivo do professor é a aprendizagem do aluno, por meio de uma boa prática de ensinagem, planejar suas aulas é um compromisso com ações de qualidade e garantia do alcance das expectativas e objetivos desejados.
Referências Bibliográficas
GIL, A. C. Didática do Ensino Superior. São Paulo: Atlas, 2006.
HAIDT, R. Curso de Didática Geral. Série Educação. São Paulo: Editora Ática, 2009.
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MASETTO, M. Docência na Universidade. São Paulo: PAPIRUS, 2010.
MASETTO, M. O professor na hora da verdade. São Paulo: AVERCAMP, 2010.
PERRENOUD, P. 10 Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre: ARTMED, 2000.
PIMENTA, S. G.; ANASTASIOU, L.. Docência no Ensino Superior. São Paulo: CORTEZ, 2010.
SCARPATO, M (org). Os procedimentos de ensino fazem a aula acontecer. São Paulo: AVERCAMP, 2014.
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